DO DELÍRIO AO DILÚVIO
“Em 1976, perseguido pelas bruxas, Chico da Silva afastava-se da realidade e do comportamento dito normal, não sabia o que dizia nem o que fazia. Entrou em delírio. Foi internado na Casa de Saúde Antonio de Pádua, de onde saiu apenas em agosto de 1977 aparentemente recuperado. Retoma a pintura. Em 1983 sua saúde, por culpa de uma trombose, estava profundamente debilitada e num período de melhora ele declara: “encontro-me hoje como alguém saído de um prolongado dilúvio”. A coleção aqui reunida cobre exatamente a sua produção de depois da saída do hospital psiquiátrico até sua saúde quase o impossibilitar de pintar, ou seja do delírio ao dilúvio. São 50 pinturas selecionadas dentre mais de uma centena que compõem este acervo de Chico da Silva. Foram escolhidos trabalhos que mostram a riqueza e a diversidade temática encontrada na pintura de Chico no período de 1977 a 1982. Como a maioria da produção do artista não veio a público, na época, porque o mercado absorvia preferencialmente as obras da Escola, esta exposição torna-se um resgate da pintura de Chico da Silva, o mestre da Escola do Pirambu. “ (Roberto Galvão, 1986)
Sergio Lima, nome artístico de Sérgio Claudio de Franceschi Lima, filho do também pintor Heros Lima é escritor, diretor de cinema e pintor. Ao lado de Maria Martins, é o grande nome do Surrealismo no Brasil, atuante desde 1955/56. E já nos anos 1961/62em Paris, convidado pelo seu fundador André Breton, passa a participar das reuniões do grupo surrealista no “Café La Promenade de Vénus”. Desde esta época, é o grande dínamo responsável pela revisão e ativação do surrealismo no Brasil. Corresponde-se com Maria Martins (e cartas para Marcel Duchamp), também com Méret Oppenheim, Pierre Molinier, além de Geyser Péret, filho de Benjamin Péret. Situando-se assim desde o início entre os outros grandes representantes da matriz erótica do movimento, com os quais entretém contatos;sobretudo como os escritores Malcolm de Chazal e Joyce Mansour, e os artistas Toyen, Hans Bellmer, Jorge Camacho e Jean Benoit.
COLEÇÕES PÚBLICAS / PUBLIC AWARDS MAC, SP IMS, SP MAB-FAAP Pinacoteca “Jorge Camacho” Almonte/Espanha Universidad La Laguna,St Cruz de Tenertife/ Canárias Coleção Menú Cadernos de poesía, Cuenca/Espanha Fundação Cupertino Miranda, Portugal
Habuba Farah Riccetti
Getulina, SP 1931
Artista Plástica
Habuba, revelou sua vocação artística desde criança. Inicia sua trajetória artística na década de 50. Estuda desenho com Mario Zanini e em 1952 pintura com o artista romeno Samson Flexor. Sua obra reflete a constante investigação sobre a geometria, a teoria da cor e seus neutros. Com diferentes suportes e técnicas, da tela ao papel; do óleo ao pastel a artista expressa sua sinergia. Participa de diversos Salões de Arte nacional e internacional. Exposições coletivas e individuais no Brasil, França, Itália, Estados Unidos e Japão. Recebeu distintos prêmios como – Diploma de mérito artístico do júri internacional no V Concours International de La Palme D’Or des Beaux-Arts, Monte Carlo, Mônaco (1973); segundo lugar no 10Salão Internacional de Pintura em Tsu, Japão (1975); medalha de bronze na 10Bienal Mundial dos Mestres das Artes em Paris, França (1980). Obras em acervos artísticos como: Museu Nacional de Bellas Artes de Santiago, Chile (1978); Museu de Arte Moderna de São Paulo (1988); Instituto per la cultura e l’arte, Catania (1988); Casa das Américas em Havana, Cuba (1989); Assembleia Legislativa de São Paulo (2003). Aos 90 anos Habuba segue com sua produção compulsiva buscando a síntese do traço como luz.
Delba recolhe o alimento para o espírito, evocados de forma xamánista na palha, sementes, galhos e plumagens multicor.
Poeta do lúdico que é, transforma seus fios que envolvem, enrolam e traçam desta maneira caminhos outros.
Monta, remonta, superpõe, abre espaços para a luz penetrar e se
transformar em mátéria viva.
É um questionamento direto da força poética da natureza, reunindo em sua expressão de ser sensível um alerta vibrante aos que pisam a terra e seus óbulos e não vêem a alma cega.
A artista transforma a palha em seu vocabulário gráfico evocando a terra e a mata como berço para sua expressão.
Sinta, veja, viva a natureza, este é o seu grito que ecoa através de suas texturas e formas de propostas intrigante de verdadeira pureza de conteúdo.
De forte teor etnográfico, sua obra surpreende pela simplicidade
mostrando o lado puro e verdadeiro de um povo e suas raízes, diálogo da terra e homem em força gigantesca.
Trabalho original e de beleza ímpar.
Teresinha Ehmke
(julho,92)
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No caminho para a conquista da abstração, em meados dos anos 1960 a artista passou pelo Atelier Abstração de São Paulo – importante iniciativa fundada pelo romeno de formação francesa Samson Flexor – que esfacelou as figuras de suas obras e abriu o caminho para a abstração plena, que consagraria seu trabalho a partir dos anos 1970. A obra de Gisela surge com inegável qualidade, é historicamente representativa, coerente em seu desenvolvimento e original. Gisela tem um vasto currículo internacional e nacional.
Antonio Carlos Suster Abdalla, curador.
Irmgard Gätcke Longman (29/05/1919 - Alemanha / Hessen / Wiesbaden) A pintura de Irmgard Longman: alma expressionista em corpo abstrato, é a primeira de uma série que pretende mostrar artistas brasileiros de linhagem expressionista. Esta é uma oportunidade para observarmos melhor essa parcela de nossa produção artística que reve-la sintonia temática e/ou estética com o expressionismo alemão. Alguns dos nomes ligados à corrente expressionista no Brasil são bem conhecidos, mas outros permaneceram menos acessíveis ao público contemporâneo. O expressionismo vem marcando de modo significativo as artes brasileiras desde os anos 1920 – os nomes de Oswaldo Goeldi, Lasar Segall e Lívio Abramo têm sido justamente lembrados como matrizes do expressionismo no Brasil. Outros pintores e gravadores tive-ram ainda contato com a produção expressionista através de publicações ou viagens à Eu-ropa. Essa influência é ampla, e se manifesta freqüentemente combinada a outras tendên-cias. Conhecer um pouco melhor a teia de relações que se espraia sob as sutilezas da nossa arte expressionista é a proposta desta série de exposições. A pintura de Irmgard Longman, alemã de nascimento, mas que vive desde menina no Brasil, trata das questões existenciais do ser humano vivendo nas grandes cidades, assinala os conflitos gerados pela aglomeração e violência urbanas, dá atenção às questões políti-cas e sociais expressas na movimentação das massas contra as injustiças sociais e as guer-ras. A esse repertório de temas, característico do expressionismo alemão, ela soma a poé-tica silenciosa e musical da pintura abstrata, tal como é visível nas obras de Yolanda Mo-halyi e Henrique Boese, duas influências importantes. Curiosamente, esses dois artistas também fizeram parte do círculo de relações de Lasar Segall – o pai de Boese foi professor de Segall na Academia de Berlim e Mohalyi foi aluna de Segall em São Paulo.
Firmino Saldanha (Santana do Livramento RS 1906 - Rio de Janeiro RJ 1985) Pintor, arquiteto. Firmino Fernandes Saldanha cursou arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1931, no Rio de Janeiro. Na década de 1940, inicia-se como autodidata em pintura. Em 1957, é escolhido, juntamente com Candido Portinari (1903 - 1962), para concorrer aos prêmios Guggenheim e participar da exposição realizada em Paris. Além disso, integra a comissão encarregada de projetar a Cidade Universitária, no Rio de Janeiro, ao lado de Lúcio Costa (1902 - 1998), Oscar Niemeyer (1907 - 2012), Affonso Eduardo Reidy (1909 - 1964); atua como presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB; e realiza, dentre outros, o mural do Banco Nacional - Palácio do Planalto, em Brasília. Críticas “Nas telas de Saldanha sentimos formas, linhas e cores se movimentando, criando contraste, se ajustando ou se opondo umas às outras, como se nascessem do mesmo ritmo, obedientes à composição geral, com seus elementos fortemente ligados através de uma coerência formal, de onde emerge a mensagem emocional com limpidez e transparência. . . “ Flávio de Aquino “É Firmino Saldanha um pintor filiado aos princípios plásticos de Braque. Sentiu-lhe intensamente a influência, especialmente no formalismo, na esquematização, na composição da obra. Assim foi durante algum tempo, e nisto está uma força e uma constância, que fazem Saldanha trabalhar continuamente até chegar à atual fase, já livre daquela influência, evidenciando sempre, porém, uma forte consciência de pintor”. Joaquim Tenreiro
Jandyra Waters reúne uma trajetória importante nos mais de 60 anos de atuação nas artes plásticas. Foi desde sempre incentivada e privou da amizade do crítico e colecionador Theon Spanudis e, como consequência, foi admirada por todo o círculo de amigos e admiradores que se formou em torno do revisitado homem de cultura, de fundamental importância para a consolidação de vários nomes de artistas no percurso histórico e atual da arte brasileira.
O início do caminho da artista se deu com obras figurativas, do período de sua formação. Esta presente mostra não pretende ser retrospectiva, mas uma antologia de períodos posteriores, a partir da radical transformação, a partir dos anos 1960, e do surgimento dos vários momentos do abstracionismo em seus trabalhos.
A abstração lírica experimentou, já desde o início, um caráter orgânico, de integração com a natureza, de vislumbre com a terra, a vegetação e o mar. Também privilegiou a matéria, com texturas evidentes, quase que instigando o observador a tocar a tela. Logo depois as telas se agigantam e o mundo orgânico natural ganha contornos geométricos. É um período de participação em bienais nacionais. São obras de grande impacto, quer sejam pela originalidade, quer sejam pelas dimensões.
Essas perspectivas geométricas se consolidam e ganham uma tridimensionalidade discreta nos relevos, para depois se transformarem por completo em esculturas, com recortes encapsulados em caixas e em “templos”, verdadeiras construções arquitetônicas, racionais e factíveis. A radicalização da geometria chega ao auge, e as obras bidimensionais ganham uma exigência de perfeição e de rigidez, consagrando Jandyra com uma paleta de cores fortes, técnica perfeita, impactante e de forte caráter pessoal.
Jandyra Waters é, também, escritora bissexta, com três livros de poemas publicados. Desses, chama a atenção Desvendador, título emprestado para esta exposição, que comemora o centenário de nascimento da artista, ainda ativa.
O título é explícito em sua intenção, pois desvendar é tornar claro e compreensível o objeto de observação, neste caso sem ser limitador, pois não é possível acomodar-se em reconhecer e compreender objetivamente todo o conteúdo de artistas complexos, de riqueza interior e realização plena com a surpreendente trajetória de Jandyra Waters, artista interessantíssima, cada vez mais próxima de nós.
Antonio Carlos Suster Abdalla
Curador
Março de 2021
https://my.matterport.com/show/?m=swmwgDNa4uk
A pintura de Ismênia Coaracy
Ismênia Coaracy tornou-se na década de 60 uma das figuras mais conhecidas da pintura paulista. Teve uma participação relevante no movimento de arte abstrata informal. Como ocorreu com numerosos outros artistas durante o apogeu do informalismo, houve uma incompreensão básica em relação ao verdadeiro sentido da obra de Ismênia. Na realidade, ela correspondia a uma figuração originaria do inconsciente, em geral não percebida pela própria artista. Agora com o inicio de sua nova fase figurativa,
aparece mais claramente a natureza de sua pintura dita abstrata.
Há uma impressionante continuidade de linguagem pictórica em Ismênia através das suas varias fases, apesar das variações consideráveis da temática e mesmo do conteúdo. Nela se traduz a fidelidade da artista ao seu temperamento, que confere tanta autenticidade à sua obra. Já há uns dez anos, realizou belas naturezas-mortas que se aproximam bastante das suas telas atuais, assim como das que pintou na chamada fase informal. Na primeira fase figurativa de Ismênia, as suas composições de temática bíblica demonstram, em forma embrionária, uma tendência que viria a se
firmar posteriormente. Esses trabalhos não convencem muito quanto ao sentimento religioso cristão, mas indicam uma aspiração para ir além da impressão sensorial ordinária. Tambem as suas naturezas-mortas de então causam um certo impacto metafísico, apesar do desenho ser de inspiração sensorial naturalista. O informalismo dos anos 60 foi indubitavelmente útil para ajudar Ismênia a se libertar das amarras de uma visão sensorial, permitindoa manifestação mais livre de suas tendências inconscientes e de uma certa percepção extra-sensorial. Foi porém, preciso que ela iniciasse a sua segunda fase figurativa, para que surgisse com maior nitidez esse aspecto de sua pintura. Em 1966, Ismênia sentiu uma insatisfação aguda com o que vinha fazendo. Deixou de pintar durante alguns meses. Passou a fazer colagens e foi encontrando a abertura para a atual pintura figurativa, em que combina a técnica do óleo com a colagem e funde as percepções extra-sensoriais com imagens sensoriais de um caráter frequentemente fantástico. Seria, a meu ver errôneo interpretar essas obras de Ismênia como simples modalidade de arte fantástica ou relacioná-las diretamente com o surrealismo. Vai emergindo do informalismo uma nova tendência artística extremamente curiosa, que não se indentifica com a nova figuração nem com o realismo fantástico, e também não é uma variedade de surrealismo no sentido ou de arte fantástica atual ou tradicional. Essa nova figuração se caracteriza pela influencia de percepções parapsicológicas de tipo extra-sensorial, associadas à percepção
ordinária e à manifestação de conteúdos oníricos do inconsciente. As obras dessa tendência são em geral classificadas erroneamente entre as da nova figuração, com o desconhecimento da sua profunda originalidade. Encontramo-nos ante uma nova abertura das “fronteiras da mente” no campo artístico, ampliando as conquistas do expressionismo, do surrealismo e da arte fantástica, relacionando-se com o realismo mágico. Tudo indica que Ismênia se aproxima da sua plena realização artística, levando ao pleno desenvolvimento os germes de anos atrás, depois de ter-se beneficiado do informalismo e das novas tendências de sua personalidade artística vigorosa.
Mario Schenberg
Revista GAM (galeria de arte moderna), 1968, Número 14, Editora Galeria de Arte Moderna LTDA.
O pintor João Alves Oliveira da Silva (1906-1979), nascido em Ipirá, na Bahia, teve destaque no cenário cultural baiano na efervescência modernista dos anos 50 e 60, período que o artista mais produziu obras. Ainda criança migrou para Salvador, que se tornaria sua cidade-inspiração, morando em diversos bairros, porém o Pelourinho foi o local que mais influenciou na sua produção. Autodidata, e assim como outros migrantes da cidade, teve diversos trabalhos informais, sendo engraxate uma das suas funções exercidas de início em paralelo com a pintura e posteriormente abandonada para dedicar-se à atividade de artista. Cronista visual de seu tempo, de uma cidade que viria a sofrer mudanças urbanísticas e sociais importantes, sua produção serve como um relato da Salvador do passado. O título da exposição tem como referência a publicação de 1916, A Bahia de Outrora – vultos e fatos populares, de autoria de Manoel Querino (1985-1923) primeiro historiador afro-brasileiro de arte e que combateu teorias racistas eugênicas pseudocientíficas difundidas à época, além de documentar os costumes e vida na cidade fim de preservá-las. A cidade de Salvador, uma vez a primeira capital do Brasil, nos anos 50 era bastante diferente da cidade turistica de hoje, sobretudo na região do Pelourinho (cujo nome faz alusão ao tronco de tortura da época da escravidão ali localizado), na época conhecida como bairro do Maciel, uma região de bastante vulnerabilidade social. Com a mudança do centro econômico para outras regiões da cidade, o centro hoje histórico de Salvador, habitado no passado por famílias enriquecidas, em seus casarões coloniais, passou a ser ocupado por pessoas empobrecidas e vulneráveis, transformando tais edificações em cortiços de extrema insalubridade e em uma dessas casas, em um porão morava João Alves. Ainda nos anos 50 conheceu o fotógrafo francês Pierre Verger, que o incentivou a dar continuidade às pinturas realizadas em paralelo ao serviço de engraxate e a partir daí ele começou a ganhar a atenção de outros artistas e pessoas influentes da época, como Odorico Tavares, Clarival do Prado Valladares, e Jorge Amado e Zélia Gattai, que chegaram inclusive organizar seu casamento com Neide Amalia Brito Alves de Oliveira, sua segunda esposa. Tema bastante frequente da sua produção são as igrejas. Apesar de ser possível identificar grandes semelhanças das pinturas com edificações existentes, João não realizava se detia a representação da real arquitetura, adicionando ou subtraindo frontões, torres, volutas e portas. Além de dos casarios e igrejas, há uma produção que retrata as festividades populares como a Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, São João, assim como manifestações religiosas afro brasileiras, capoeira, Em algumas das obras expostas podemos observar andaimes, o que evidenciam a construção/adaptação dos casarões às suas novas finalidades. Em 1961, realiza exposição organizada por Lina Bo Bardi, no Museu de Arte Moderna da Bahia, na época ainda Teatro Castro Alves, ao lado de Agostinho Batista de Freitas (1927-1997), assim como artista da I e II Bienal de Artes Plásticas da Bahia em 1966 e 1968 respectivamente. Em 1968 entra para a coleção do Museu de Artes Negras organizado por Abdias Nascimento Apesar de ter testemunhado em vida o reconhecimento da importância cultural do seu trabalho, não conseguiu estabilidade financeira, devido aos mecanismos de produção de desigualdade ainda vigentes hoje em dia. Ademar Britto, 13 de Fevereiro de 2023
Conhecido pelos posicionamentos radicais, o pintor paulista Loio-Pérsio (1927-2004) cunhou uma teoria sobre o esquecimento sofrido por tantos talentos de sua geração. Segundo ele, a marginalização de sua pintura teria sido um efeito do chamado milagre econômico. Diretor do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), o crítico Paulo Herkenhoff, que prepara uma antologia da obra completa do artista para o segundo semestre, vai mais longe. “O Brasil é que tende a ser mesquinho com sua história. É um país muito canibal e está reduzindo cada vez mais a história da arte”, afirma. Em quase 60 anos de carreira, a resposta de Loio ao pouco-caso da mídia e da crítica foi atuar como um incansável documentarista teórico de seu processo criativo. Deixou para as novas gerações valiosos testemunhos sobre a arte de seu tempo, e o esforço não foi em vão. Seus escritos serviram para que o crítico Agnaldo Farias conhecesse sua trajetória e escrevesse o belo texto Da pintura da natureza à natureza da pintura, publicado no único livro dedicado ao artista, A arte de Loio-Pérsio, de 1999. “Ele é um artista primoroso, um líder de sua geração, do qual eu só tinha uma referência verbal”, afirma Farias. “O problema de Loio é que ele foi um nômade. No Brasil, sempre foi muito fácil ser soterrado por modas. Em um mercado não consolidado, se você fica longe, desaparece”, diz. Nascido no interior paulista, Loio-Pérsio Navarro Vieira Magalhães viveu em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Lisboa, Vitória, Belo Horizonte, em uma praia deserta do Espírito Santo e em Petrópolis, até sua morte no Rio de Janeiro, em 8 de janeiro de 2004. Contrário à representação figurativa da realidade e à “formulação matemática” da abstração geométrica, defendia a espontaneidade do gesto e a liberdade de expressão, posição que o colocou entre os maiores expoentes do abstracionismo informal. Quando Manabu Mabe ganhou o prêmio de pintura da V Bienal de São Paulo, em 1959, Loio-Pérsio também participava da mostra com a série Composição. Em 1960, representaria o Brasil na Bienal de Veneza. “Nos anos 50, quem deu as cartas foram os informais. Os artistas concretos eram um nicho, mas eles tinham um programa mais definido que os informais, para conforto dos teóricos que vieram depois”, analisa Agnaldo Farias. As duas vertentes abstracionistas produziam o grande debate da época, mas quem levou a melhor foi o concretismo e o neoconcretismo. “O Brasil de 1950 é animado pela crença da industrialização e por isso precisa de repertórios comuns e claros. Tem um otimismo construtivo. A subjetividade do expressionismo abstrato tinha valor nos Estados Unidos porque lá a casa já estava arrumada”, diz Fernando Cocchiaralle, curador do Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro. O mercado confirmou as crenças: se nos anos 50, tanto Loio-Pérsio quanto Lygia Clark vendiam a US$ 3 mil, hoje ele se mantém na faixa e ela chega ao pico de US$ 70 mil. “As importâncias estão todas descalibradas no Brasil. A história da arte ainda está por se fazer”, afirma Farias. Cientes do descompasso, algumas mostras recentes vêm tentando corrigir as ausências históricas e redescobrindo jóias, como Yolanda Mohaly ou Zélia Salgado, com retrospectiva no MNBA até 14 de fevereiro (leia quadro). O caso de Loio- Pérsio é mais urgente. “Ele precisa de um resgate completo. Sempre foi um artista de investigação da matéria e não foi vítima da decadência”, afirma Herkenhoff. As telas Composição (1963) e Composição no 22 (1959), pertencentes ao acervo do MNBA, podem ser seus pontos de partida. Mas há muito mais material reunido, à disposição, graças ao trabalho da filha Sarah Vieira Magalhães. “Tive muito pouco contato com o Loio durante minha vida, como todos os seus filhos, mas no último ano me aproximei dele e comecei a ajudá-lo a catalogar sua obra. Prometi terminar isso para ele”, conta Sarah, 38 anos. Do acervo da família, espalhado em quatro Estados brasileiros, ela já reuniu e catalogou 438 obras, entre óleos, desenhos, gravuras e estudos. Do total, 43 delas foram restauradas. O próximo passo será levantar obras em galerias, coleções públicas e particulares. Entre os trabalhos figurativos, nunca expostos, Sarah destaca os retratos de amigos, uma série de representações de São Francisco de Assis e as paisagens. “Ele observava muito a natureza.” Seus últimos trabalhos são justamente 38 aquarelas com paisagens abstratas da praia de Copacabana.
Paula Alzugaray
Agi Straus, nasceu em Viena, Áustria em 1926. Teve os estudos interrompidos com a chegada à Áustria das tropas alemãs. Em sua cidade natal estudou na Judaic Schwartzwalt Schule, e conta que teve em seus últimos tempos na Europa experiências de antissemitismo na escola. Em meados de 1938, aos doze anos, abandonou Viena com sua família, com destino a Paris, e neste mesmo ano veio para o Brasil, onde desembarcou primeiramente no Rio de Janeiro, depois no porto de Santos, no navio Astúrias. Agi conta que os parentes de sua avó ficaram na Europa na época, na Hungria, e acabaram vítimas do nazismo. Para conseguir o visto e sair da Áustria toda sua familia fora batizada por um padre, e na chegada ao Brasil, foram rebatizados no judaismo pelo rabino Fritz Pinkus. Agi Straus faz desenhos e pinturas desde que vivia em Viena, é pintora, desenhista e escultora. Teve sua formação bastante livre e buscou desenvolver estilo próprio, durante sua trajetória artística viveu e estudou com Gaetano Miani, Antônio Gomide, Poty, Darel Valença Lins e Zamoyski. No Brasil, em meio aos espaços de circulação da comunidade judaica, conheceu Walter Straus, com quem se casou e teve três filhas, e separou-se mais tarde, indo residir em Recife, período em que conheceu também Belém, Bahia e São Luiz do Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte. O impacto frente a exuberante paisagem brasileira, diante do novo, do diferente e do exótico que era o Brasil em 1938, influencia os seus primeiros desenhos e pinturas com temática brasileira e principalmente a arquitetura barroca brasileira. Em meados de 1951, passou a se dedicar à literatura infantil, escrevendo e ilustrando diversos livros para a Editora Melhoramentos. Em 1952, iniciou seus estudos no MASP, época em que trabalhou com Gaetano Miani, com quem executou o afresco no Palácio do Café, em São Paulo e uma série com a técnica de cobre esmaltado. Desenha, pinta e esculpe o corpo feminino com ajuda se suas filhas que posam para ela. Sempre ligada à natureza e profundamente interessada na matéria da pintura, usa como matéria prima elementos coletados da natureza como areia, conchas, plantas, galhos que são colados à tela ou madeira e que são intitulados “Botânica”. Agi, confessa suas paixões pelos artistas Anselm Kiefer, Constant Permerke, Max Ernst e o expressionismo alemão. Nos anos 60 fundou e dirigiu a Escola Agi em São Paulo. Entre 1964 e 1970, colaborou com ilustrações nos suplementos “Literário” e “Feminino” do jornal “O Estado de S. Paulo”. Em 1976,expõe no MASP, na exposição coletiva Imigrantes nas Artes Plásticas de São Paulo. Morou nos Estados Unidos e Europa onde também, produziu e expôs sua arte. Agi Straus foi premiada em vários salões paulistas, expôs também em Nova York, Milão e Kioto.
Participante da tendência nacional do Construtivismo, Valdeir Maciel foi autodidata e frequentou muito de perto o círculo do teórico e crítico Theón Spanudis, que vislumbrou, desde o início, o prodigioso talento do pintor.
Utilizando-se das formas geométricas mais simples: o triângulo e sua forma dobrada, o losango, o quadrado, o retângulo e, já como resultado do ritmo de sua pintura, o trapézio, empregou cores por vezes ousadas e de vários matizes.
Pelas características de seus trabalhos, Valdeir pode ser incluído na tendência norte-americana da Hard-edge abstraction (de difícil tradução para a língua portuguesa): a pintura de contornos bem definidos. Com formas finitas, planas, de arestas nítidas, essa vertente não têm por objetivo evocar no expectador nenhuma lembrança de formas que ele possa ter visto em outras situações. São formas autônomas, autossuficientes.
Essa geometria é parte da tendência de se afastar das qualidades expressivas da abstração gestual. Muitos outros pintores também procuravam evitar os espaços pós-cubistas da obra de Willem de Kooning, e no lugar destes adotaram os espaços abertos de uma única cor que podem ser vistos na obra de Barnett Newman. Assim, a Hard-edge abstraction caracteriza-se pela economia das formas, intensidade das cores, execução impessoal e planos de superfície lisa.
O termo Hard-edge abstraction foi criado pelo crítico Jules Langsner e, no início, nomeou uma mostra de 1959 que incluía os artistas Karl Benjamin, John McLaughlin, Frederick Hammersley e Lorser Feitelson. Apesar de, mais tarde, esse estilo ter sido frequentemente citado como California hard-edge, e os referidos quatro artistas se terem tornado sinônimos do movimento, Langsner eventualmente decidiu dar à mostra o título de Four Abstract Classicists (Quatro Classicistas Abstratos), pois lhe parecia que o estilo marcava um afastamento do romantismo do Expressionismo Abstrato.
Spanudis também definiu a ideia de Arte Transcendental como “aquela que ultrapassa o imediatismo da obra, ofertando e proporcionando-nos vivências numinosas que variam entre o magismo dos que têm origem na mesclagem com as culturas dos afro-brasileiros e ameríndios”, aí incluindo a obra de Maciel. Spanudis afirmou que os complexos formais de Maciel “colocados no meio da tela sugerem símbolos de objetos sacrais e litúrgicos, símbolos de objetos significativos e transcendentes, algo de místico e revelatório”. Esta descrição está muito próxima daquela que se poderia fazer do trabalho de Rubem Valentim e seu acercamento explícito da mitologia africana – que, no caso de Maciel, se apresenta mais sugerida e misteriosa.
Cartesiano sem se afastar da emoção, Valdeir Maciel produziu uma marcada pela rigorosa geometria e por cores equilibradas, constituindo um geometrismo lírico. Seus trabalhos podem ser agrupados em dois blocos: o da geometria simétrica (onde as formas se sobrepõem ou agrupam de maneira estável) e o da geometria irregular, quase caótica (onde a composição se equilibra principalmente pelas cores ora vibrantes, ora melancólicas). Em ambos os casos, formas e cores, Valdeir Maciel se revela surpreendente.
Antonio Carlos Suster Abdalla
Certa ocasião, faz alguns anos, afirmei que, na direção oposta da monocromia reinante e quase obrigatória, Bárbara Spanoudis não tinha, em suas obras, nenhum “pudor da cor”. Suas pinturas e objetos exorbitavam em cores harmoniosas. Nesta nova exposição, pela primeira vez são apresentados vários trabalhos dos anos 1960, quando a artista convivia muito de perto com o Construtivismo, tendência presente e reforçada na arte do Brasil desde os anos 1950. Algumas obras, as primeiras de seus quase sessenta anos de criação, têm grande solenidade e, pensando em seu geometrismo e discreto colorido , eu ousaria afirmar que são de uma geometria contemplativa, em contraste com as obras de intenso colorido. As colagens estão no entremeio das cores vibrantes e da placidez das “caixas” que, ainda que se revelem, num primeiro momento, como objetos brancos e neutros, guardam, em completa harmonia com o gosto da artista, inúmeras cores escondidas, como surpresas a serem reveladas. De qualquer forma, Bárbara mantém-se fiel e coerente, exercitando sempre – com domínio técnico e sensibilidade evidente – o ofício da cor. Como numa missão.
Antonio Carlos Suster Abdalla, Curador
Este ano marca o centenário de Flavio Lichtenfels Motta (1923 – 2016). A Galeria MaPa celebra seus 100 anos com esta mostra de desenhos e objetos, especialmente dos anos 70 e 80.
Formado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo – USP, Flavio Motta muito cedo se interessou pelo estudo da arte e foi figura destacada na vida cultural do país. Mais conhecido como professor, pesquisador e crítico de arte e por suas realizações em nossas instituições culturais,
dedicou-se por toda a vida também à pintura e ao desenho.
Como, pintor e desenhista, conviveu e atuou com várias gerações dos mais destacados nomes das artes plásticas. Em 1942, com 19 anos, já frequentava o Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, onde passou a conviver com os membros do Sindicato, fazendo amizades que conservou a partir de então, como Anita Malfatti, Rafael Galvez, Quirino da Silva, Mick Carnicelli, entre tantos outros.
No final dos anos 40, fundou e dirigiu o Jornal ARTES PLÁSTICAS (1948), com Rebollo Gonsales, Claudio Abramo e Ciro Mendes. Criou, junto com Alfredo Volpi, Aldo Bonadei, Nelson Nobrega, Waldemar da Costa e Waldemar Amarante, a ESCOLA LIVRE DE ARTES PLÁSTICAS (1949). A escola reuniu um time de professores da maior qualidade, como Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Poty, Volpi e Bonadei. Foram alunos da Escola, Aldemir Martins, Marcelo Grassmann e Mario Gruber.
Em 1947 iniciou suas atividades no MASP-Museu de Arte de São Paulo, primeiro como monitor, depois como assistente do diretor Pietro Maria Bardi. Lá permaneceu por quase dez anos e chegou a ocupar por um período a Direção do Museu. No Masp, coordenou os cursos do IAC- Instituto de Arte Contemporânea e participou ativamente da concepção, organização e montagem das exposições temporárias. Neste período, idealizou e apresentou um programa sobre arte na TV Tupi, VÍDEO DE ARTE (1952)
Desde 1954 até se aposentar, foi professor de História da Arte e Estética na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP-Universidade de São Paulo (FAU-USP). Sua contribuição foi decisiva para a reformulação do curso de arquitetura durante sua permanência na FAU. Na FAU, também iniciou e orientou importante programa de pesquisas sobre arte popular e sobre artistas do Modernismo, como Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, ele próprio realizando a pesquisa sobre Portinari.
Implementou e dirigiu os cursos de arte e “design” na Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP (1956 – 1961/66).
Como professor, formou muitas gerações de artistas, arquitetos e historiadores de arte.
Sua produção intelectual foi vasta. Desde a década de 1940, escreveu com regularidade sobre arte e artistas, sobre arquitetura e urbanismo na imprensa, publicações sobre arte, catálogos, apresentações em congressos. Colaborou regularmente na Revista HABITAT e, por um período, dirigiu a revista. Alguns de seus textos se destacam:
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ART NOUVEAU, tese para concurso de catedrático na FAU-USP (1957); 400 ANOS DE PRÉ-HISTÓRIA DAS ARTES, na edição comemorativa do IV Centenário de São Paulo (1954); INTRODUZIONE AL BRASILE, na revista italiana ZODIAC (1960); DESENHO E EMANCIPAÇÃO, publicado no Correio Braziliense (1967), referência para gerações de professores e estudantes de arte, arquitetura e design; A ARTE E A VIDA URBANA NO BRASIL (1970), contribuição notável para a discussão das questões da arte nos tempos atuais; ART NOUVEAU, MODERNISMO, ECLETISMO E INDUSTRIALISMO, capítulo do livro História Geral da Arte no Brasil (1983). Publicou, pela Editora Nobel, o livro ROBERTO BURLE MARX E A NOVA VISÃO DA PAISAGEM (1977).
Colaborou em concursos e projetos com arquitetos, como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Como membro de entidades nacionais e internacionais, como ICOM e AICA, participou de congressos, juris e grupos de trabalho para formular diretrizes nas áreas de ensino, arte e comunicação, patrimônio cultural e artístico.
Teve intensa atuação como intelectual e professor, mas jamais abandonou sua atividade como desenhista e pintor. Podemos dizer que a sua produção artística revela uma permanente e estreita conexão entre as suas várias áreas de interesse. Ainda adolescente, começou a desenhar e pintar, frequentar exposições e salões. Desde a juventude, participou de salões e exposições coletivas. Foi também um retratista excepcional, no desenho e na pintura.
Desde a década de 40, participou de exposições coletivas e salões. Nos anos 70, duas mostras se destacam: UMA AMIZADE, UM ATELIER, com Rafael Galvez, no Museu Lasar Segall (SP, 1978); MATRIZES E FILIAIS no SESC-SP, com Renina Katz, Flavio Império e Claudio Tozzi (1979).
Durante os anos 60 e 70 foi marcante a sua participação no movimento artístico brasileiro. Em torno de suas iniciativas, reuniu artistas de várias gerações, especialmente jovens da vanguarda brasileira. Destacam-se o seu trabalho CARIMBOS EM SÉRIE do Salão de Arte Moderna do Distrito Federal (Brasília, 1967) e os projetos em parceria e intervenções no espaço público: NOITE DAS BANDEIRAS, com Nelson Leirner (SP, 1967); BANDEIRAS NA PRAÇA (RJ, 1968), com Helio Oiticica , Marcello Nitsche, Carmela Gross, Rubens Gerchmann, entre outros; projeto ARTE NA CIDADE com Marcello Nitsche, Poty e Nelson Leirner (Curitiba, 1975).
Mostras individuais: desenhos na Galeria São Luís (SP, 1963; Galeria Goeldi (RJ, 1965); desenhos e pinturas no MASP-SP (1965); Galeria Atrium (SP,1967); desenhos e objetos na Galeria Grupo B (RJ, 1973); pinturas murais nos pilares do Elevado Costa e Silva, no trajeto centro-Pico do Jaraguá (1974, prêmio da APCA 75); individual de desenhos no Brazilian Cultural Institute (Washington D.C., 1978); Na década de 70, também realizou projetos para desenho animado e publicou livros de desenhos: Love Story, Nus em Série e Tudo Novo.
Como, pintor e desenhista, conviveu e atuou com várias gerações dos mais destacados nomes das artes plásticas. Em 1942, com 19 anos, já frequentava o Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, onde passou a conviver com os membros do Sindicato, fazendo amizades que conservou a partir de então. Com Anita Malfatti, ia pintar na cidade de Embu. Com o pintor e escultor Rafael Galvez, teve um ateliê nos anos 40. Nos anos 60 e 70, com Marcello Nitsche, realizou inúmeros projetos, dentre eles o filme SUPERFÍCIES HABITÁVEIS (1975). Já com mais de 80 anos, os encontros com o artista Guto Lacaz renderam um verdadeiro “diálogo artístico” entre os dois a partir das conversas e dos desenhos e estudos que Flavio lhe mostrava.
O desenho foi uma constante na vida de Flavio Motta. A partir da década de 70, embora não tenha abandonado a pintura, passou a desenhar mais. No texto de divulgação do livro Tudo Novo, se definia como “um professor que desenha como pode, quando pode e quando não pode”.
No seu “desenho do dia”, como chamava, se utilizava de uma grande variedade de técnicas e materiais, se apropriando inclusive de elementos do cotidiano para suas criações, sempre explorados de forma surpreendente.
Deixou de assinar os desenhos, dizendo: “os meus desenhos já são minha assinatura”. Mas as datas, que registrava sempre, mostram como, com mínimos recursos, produziu intensamente e com que liberdade explorou cores, formas e linhas.
As obras de Flávio Motta que vamos ver na Galeria MaPa, revelam um artista ímpar, Sua sensibilidade e inteligência, senso de humor e cultura, foram a matéria prima com que trabalhou nesses desenhos e objetos.