Este ano marca o centenário de Flavio Lichtenfels Motta (1923 – 2016). A Galeria MaPa celebra seus 100 anos com esta mostra de desenhos e objetos, especialmente dos anos 70 e 80.
Formado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo – USP, Flavio Motta muito cedo se interessou pelo estudo da arte e foi figura destacada na vida cultural do país. Mais conhecido como professor, pesquisador e crítico de arte e por suas realizações em nossas instituições culturais,
dedicou-se por toda a vida também à pintura e ao desenho.
Como, pintor e desenhista, conviveu e atuou com várias gerações dos mais destacados nomes das artes plásticas. Em 1942, com 19 anos, já frequentava o Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, onde passou a conviver com os membros do Sindicato, fazendo amizades que conservou a partir de então, como Anita Malfatti, Rafael Galvez, Quirino da Silva, Mick Carnicelli, entre tantos outros.
No final dos anos 40, fundou e dirigiu o Jornal ARTES PLÁSTICAS (1948), com Rebollo Gonsales, Claudio Abramo e Ciro Mendes. Criou, junto com Alfredo Volpi, Aldo Bonadei, Nelson Nobrega, Waldemar da Costa e Waldemar Amarante, a ESCOLA LIVRE DE ARTES PLÁSTICAS (1949). A escola reuniu um time de professores da maior qualidade, como Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Poty, Volpi e Bonadei. Foram alunos da Escola, Aldemir Martins, Marcelo Grassmann e Mario Gruber.
Em 1947 iniciou suas atividades no MASP-Museu de Arte de São Paulo, primeiro como monitor, depois como assistente do diretor Pietro Maria Bardi. Lá permaneceu por quase dez anos e chegou a ocupar por um período a Direção do Museu. No Masp, coordenou os cursos do IAC- Instituto de Arte Contemporânea e participou ativamente da concepção, organização e montagem das exposições temporárias. Neste período, idealizou e apresentou um programa sobre arte na TV Tupi, VÍDEO DE ARTE (1952)
Desde 1954 até se aposentar, foi professor de História da Arte e Estética na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP-Universidade de São Paulo (FAU-USP). Sua contribuição foi decisiva para a reformulação do curso de arquitetura durante sua permanência na FAU. Na FAU, também iniciou e orientou importante programa de pesquisas sobre arte popular e sobre artistas do Modernismo, como Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, ele próprio realizando a pesquisa sobre Portinari.
Implementou e dirigiu os cursos de arte e “design” na Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP (1956 – 1961/66).
Como professor, formou muitas gerações de artistas, arquitetos e historiadores de arte.
Sua produção intelectual foi vasta. Desde a década de 1940, escreveu com regularidade sobre arte e artistas, sobre arquitetura e urbanismo na imprensa, publicações sobre arte, catálogos, apresentações em congressos. Colaborou regularmente na Revista HABITAT e, por um período, dirigiu a revista. Alguns de seus textos se destacam:
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ART NOUVEAU, tese para concurso de catedrático na FAU-USP (1957); 400 ANOS DE PRÉ-HISTÓRIA DAS ARTES, na edição comemorativa do IV Centenário de São Paulo (1954); INTRODUZIONE AL BRASILE, na revista italiana ZODIAC (1960); DESENHO E EMANCIPAÇÃO, publicado no Correio Braziliense (1967), referência para gerações de professores e estudantes de arte, arquitetura e design; A ARTE E A VIDA URBANA NO BRASIL (1970), contribuição notável para a discussão das questões da arte nos tempos atuais; ART NOUVEAU, MODERNISMO, ECLETISMO E INDUSTRIALISMO, capítulo do livro História Geral da Arte no Brasil (1983). Publicou, pela Editora Nobel, o livro ROBERTO BURLE MARX E A NOVA VISÃO DA PAISAGEM (1977).
Colaborou em concursos e projetos com arquitetos, como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Como membro de entidades nacionais e internacionais, como ICOM e AICA, participou de congressos, juris e grupos de trabalho para formular diretrizes nas áreas de ensino, arte e comunicação, patrimônio cultural e artístico.
Teve intensa atuação como intelectual e professor, mas jamais abandonou sua atividade como desenhista e pintor. Podemos dizer que a sua produção artística revela uma permanente e estreita conexão entre as suas várias áreas de interesse. Ainda adolescente, começou a desenhar e pintar, frequentar exposições e salões. Desde a juventude, participou de salões e exposições coletivas. Foi também um retratista excepcional, no desenho e na pintura.
Desde a década de 40, participou de exposições coletivas e salões. Nos anos 70, duas mostras se destacam: UMA AMIZADE, UM ATELIER, com Rafael Galvez, no Museu Lasar Segall (SP, 1978); MATRIZES E FILIAIS no SESC-SP, com Renina Katz, Flavio Império e Claudio Tozzi (1979).
Durante os anos 60 e 70 foi marcante a sua participação no movimento artístico brasileiro. Em torno de suas iniciativas, reuniu artistas de várias gerações, especialmente jovens da vanguarda brasileira. Destacam-se o seu trabalho CARIMBOS EM SÉRIE do Salão de Arte Moderna do Distrito Federal (Brasília, 1967) e os projetos em parceria e intervenções no espaço público: NOITE DAS BANDEIRAS, com Nelson Leirner (SP, 1967); BANDEIRAS NA PRAÇA (RJ, 1968), com Helio Oiticica , Marcello Nitsche, Carmela Gross, Rubens Gerchmann, entre outros; projeto ARTE NA CIDADE com Marcello Nitsche, Poty e Nelson Leirner (Curitiba, 1975).
Mostras individuais: desenhos na Galeria São Luís (SP, 1963; Galeria Goeldi (RJ, 1965); desenhos e pinturas no MASP-SP (1965); Galeria Atrium (SP,1967); desenhos e objetos na Galeria Grupo B (RJ, 1973); pinturas murais nos pilares do Elevado Costa e Silva, no trajeto centro-Pico do Jaraguá (1974, prêmio da APCA 75); individual de desenhos no Brazilian Cultural Institute (Washington D.C., 1978); Na década de 70, também realizou projetos para desenho animado e publicou livros de desenhos: Love Story, Nus em Série e Tudo Novo.
Como, pintor e desenhista, conviveu e atuou com várias gerações dos mais destacados nomes das artes plásticas. Em 1942, com 19 anos, já frequentava o Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, onde passou a conviver com os membros do Sindicato, fazendo amizades que conservou a partir de então. Com Anita Malfatti, ia pintar na cidade de Embu. Com o pintor e escultor Rafael Galvez, teve um ateliê nos anos 40. Nos anos 60 e 70, com Marcello Nitsche, realizou inúmeros projetos, dentre eles o filme SUPERFÍCIES HABITÁVEIS (1975). Já com mais de 80 anos, os encontros com o artista Guto Lacaz renderam um verdadeiro “diálogo artístico” entre os dois a partir das conversas e dos desenhos e estudos que Flavio lhe mostrava.
O desenho foi uma constante na vida de Flavio Motta. A partir da década de 70, embora não tenha abandonado a pintura, passou a desenhar mais. No texto de divulgação do livro Tudo Novo, se definia como “um professor que desenha como pode, quando pode e quando não pode”.
No seu “desenho do dia”, como chamava, se utilizava de uma grande variedade de técnicas e materiais, se apropriando inclusive de elementos do cotidiano para suas criações, sempre explorados de forma surpreendente.
Deixou de assinar os desenhos, dizendo: “os meus desenhos já são minha assinatura”. Mas as datas, que registrava sempre, mostram como, com mínimos recursos, produziu intensamente e com que liberdade explorou cores, formas e linhas.
As obras de Flávio Motta que vamos ver na Galeria MaPa, revelam um artista ímpar, Sua sensibilidade e inteligência, senso de humor e cultura, foram a matéria prima com que trabalhou nesses desenhos e objetos.